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Marcelo Xavier, artesão da palavra e da imagem

  • Mauro Martins / desenho: Marcelo Xavier
  • 6 de ago. de 2016
  • 4 min de leitura

Marcelo Xavier nasceu em Ipanema (MG) e mudou-se, aos cinco anos, para Vitória (ES) onde passou a infância. Aos doze anos, desembarcou em Belo Horizonte cidade em que mora e trabalha até hoje como artesão da palavra e da imagem. Artista plástico autodidata, ilustrador e escritor de literatura infantil, tem na massinha de modelar a marca registrada e a matéria prima de seu trabalho.


Como autor e ilustrador já publicou 19 livros e recebeu os mais importantes prêmios literários do país, como o Jabuti e o da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Mas o seu trabalho e a sua arte não param por aí. Marcelo Xavier cria capas de discos, livros, faz cenografia, figurino e adereços para espetáculos de dança, teatro, música e TV. E ainda leva sua Oficina Mágica para todo o país, onde ensina a crianças e adultos esse seu lado arteiro.


A obra infantil surgiu por acaso na sua vida ou foi uma vocação, estava no seu DNA?


Não acredito no acaso pelo acaso. Ele vem sempre como resultado de experiências vividas, de exercícios de observação, de escolhas pessoais, de memórias afetivas guardadas com todo o carinho. Sempre estive atento aos sentimentos da infância, aos ingredientes que entram na sua receita: a fantasia, a aventura, a brincadeira, as histórias. Para mim a criança se desenvolve num universo de vida própria, autônomo, com suas regras, seus jogos, seus medos, seus ídolos, seus sonhos. Quando o primeiro trabalhado de ilustração para o livro Truques Coloridos, com texto da Branca de Paula, foi publicado, ele caiu como uma semente em terreno fértil. Resultado: o trabalho deu frutos maravilhosos.


Quando e como você elegeu a massinha de modelar para esse seu trabalho tridimensional?


Penso que os antepassados dos meus personagens de massinha são os pequenos bonecos de barro que eu fazia quando criança em Vitória. Modelar era uma das brincadeiras do rico repertório da nossa turma de amigos da rua. Todos modelavam. Pegávamos barro de um lote vago, modelávamos os personagens da corte: rei, rainha, príncipe, princesa etc que eram colocados ao sol para secar e, depois, pintados com aquarela. Cada um de nós tinha o seu castelo de caixa de sapato, com portas e janelas recortadas. As festas nesses castelos eram animadas, regadas a limonada, pedacinhos de mariola (pequeno tablete de bananada) e pastilhas de hortelã da Garoto.


Quando pensei em fazer a ilustração tridimensional para o Truques Coloridos, me ocorreu montar pequenos cenários com personagens e objetos de cena feitos com massinha para, posteriormente, serem fotografados.

Deu tudo certo, o trabalho recebeu o carinho das crianças e também dos adultos, cresceu como uma bola de massa que saiu rolando por todo o país, resultando novos livros e muitas e muitas oficinas de modelar.


Cenas do livro "Truques coloridos:


Vários ilustradores trabalham há algum tempo com plataformas da informática: editores de imagem, canetas e softwares de design. Por que você não se rendeu a estas ferramentas? Resistência? Ou acha que estas ferramentas não dão a exata dimensão da ilustração, em relação a texturas, cores, profundidade...


Pelo contrário. Penso que a tecnologia pode ser grande aliada da arte, da criação. O impressionante desenvolvimento das ferramentas tecnológicas abre à criação um universo sem limites. No trabalho de ilustração tridimensional sempre contei com o recurso tecnológico da fotografia para realizar minhas criações. Sempre fui atendido de forma brilhante. Atualmente outra ferramenta tecnológica foi incorporada ao processo: a computação gráfica. Com ela pode-se fazer desabar uma tempestade sobre o mar (cena do livro “Três formigas amigas”) ou fazer um personagem voar.


Cena do livro Três formigas amigas


Fale um pouco do seu livro Mitos e da coleção “O folclore do Mestre André”, onde você resgata o Saci, o Curupira e conta um pouco das festas tradicionais brasileiras.


O folclore é de importância vital para a afirmação da identidade de um povo. Se nossa cultura de raiz não estiver forte o bastante, os ventos de uma inevitável globalização, a força do poder econômico e os interesses do mercado internacional derrubarão facilmente a frondosa árvore da nossa sociedade, levando nossos valores, nossas tradições, nossos costumes e nossa memória.


Esta coleção é minha pequena contribuição para o fortalecimento dessas raízes. As crianças, a parte mais vulnerável, a mais frágil da população do país, precisam ser informadas de nossos valores culturais, vivenciarem nossas festas de rua, saborearem nossos pratos típicos, valorizarem a diversidade de nossos sotaques, reconhecerem nossa alma.


Plantada a afeição, a intimidade e a devida apropriação de personagens como o Saci, o Curupira e tantos outros da nossa mitologia por meio da educação, da arte, das diversas formas de comunicação não é preciso temer qualquer super-herói, seres de outros planetas, pokemons. Nossos seres os enfrentarão de igual para igual.Conviverão pacificamente, sem nenhum tipo de xenofobia.

Cena do livro Crendices e Superstições


O que vem primeiro no seu trabalho, a imagem ou a palavra?


Dou a mesma importância aos dois. A linguagem escrita me fascina. Ela é capaz de mergulhar fundo em um personagem, uma situação, um fato, expor estados psicológicos e sentimentos. A imagem fala pela plasticidade, pela sugestão da atmosfera criada, pela indicação do desenho, pela interpretação da cena, pelas cores, pela luz e sombra, por deduções.


Desde sempre trabalhei textos e imagens. Minha formação básica vem dos quadrinhos – a TV das crianças da época ( a década dos anos 50). Como artista plástico e escritor, quase sempre penso a história em narrativa de texto e de imagem. Em alguns casos eles são dependentes um do outro para ganharem significado (o livro “Asa de Papel, por exemplo).

Além da sua obra em literatura infantil você se enveredou por outros gêneros literários, como a crônica semanal que você publicava no jornal Hoje em Dia e publicou livros de poesia. Já arriscou também uma investida em contos ou romance?


Minha publicação mais recente, “Apática”, é uma ficção com tempero filosófico, uma história curta com explícita plasticidade na narrativa. Pode ser que eu não consiga nunca desfazer esse casamento palavra/ imagem. Toco o barco. Na gaveta, tenho alguns contos, poesias, romances e reflexões. Possibilidades.


*Mauro Martins é autor de livros infantis, jornalista, publicitário e participa como autor convidado do Boo literatura deste mês; Marcelo Xavier será o autor convidado de setembro.


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